sábado, 20 de dezembro de 2014

Papai Noel só desce em terreiro de Rico??

Estamos há 5 dias do Natal e quase em todos os natais eu lembro da frase do grande mestre e saudoso Plínio Marcos de Barros(1935-1999) no texto Quando as Máquinas Páram onde Zé, um proletário de fábrica desempregado diz pra sua mulher Nina, já grávida, que “Papai Noel só baixa em terreiro de ricos”. Essa, uma das frases que mais me marcaram tanto no “Máquinas” quanto em toda obra do Santista Mago.

Plínio quando aponta essa preferência do “bom velhinho” e, talvez, sua pretensão por casas ricas também faz alusão aos terreiros de umbanda e candomblé, naquela época ocupado majoritariamente por pobres, o que já não é nos dias de hoje; onde as entidades (Orixás, Caboclos, Caboclos e Exus) encorporam corpos humanos para fazer ações boas. Assim, Plínio relaciona o Papai Noel à uma entidade que se apodera de seres humanos e fazem suas boas obras.

Plínio Marcos passou pela ditadura do Estado Novo, ditadura Militar e pela ausência de programas sociais, passou pelos movimentos em prol dos direitos civis e viu os direitos trabalhistas serem conquistados pelos trabalhadores, pode ver o movimento de redemocratização e quando morreu, também percebera que na verdade houve uma nova forma de se fazer ditaduras, isso não só no Brasil, mas em muitos outros países do mundo (se não em todos).

Mas Plínio não viu!!!

Plínio não viu que hoje o Papai Noel desce sim em terreiro de pobres e que até desce mais que uma única vez e não só a noite, mas até em dias super ensolarados que pensamos que o Bom Velhinho já esteja meio pinel por usar coturno e roupas grossas num calor tão grande e em dias de chuva que até pensamos o por que não viera com lancha a vir num trenó?!

O que mais tenho visto nesses últimos dias são festas para moradores de rua e doações de roupas e presentes o que tenho grande certeza que também esteja acontecendo em abrigos pra crianças, favelas, periferias, presidios e hospitais. Ontem até presenciei doarem lanches de pernil (o qual estava delicioso), panetone e coca cola no albergue onde eu trabalho. O que há de igrejas e instituições religiosas, filantrópicas e dos direitos humanos fazendo ações para marcar os natais das pessoas mais desvalidas da nossa sociedade. Hoje vivemos o momento dos pobres do futuro que andam com roupas de marca, tem televisores de última geração, mas ainda vivem em barracos com esgoto a céu aberto e desigualdades geográficas. Muito mudou, mas ainda queremos os pobres o mais longe de nós e essas ações nos fazem pensar que sejam de fato pra isso, pra calar com comida a boca que grita seus direitos constitucionais. As formas que adquirem esses bens de consumo são das mais variadas possíveis, mas podem construir abstrações muito diferentes dos pobres da época do Plínio.




Porém, quando passar o Natal, não haverá mais Papai Noel, não haverão mais presentes, não haverão mais lanches de pernil com coca-cola, não haverão mais doações, nem festas. Ai, veremos os que sobreviverão para no próximo Natal, esperarmos novamente o Papai Noel descer em terreiro de pobre, mas não fazer mudança alguma no mundo de miséria que ele mesmo não quer consertar!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Banda de Ibaté faz show na cidade de Limeira

Tocar nas mais famosas casas de shows, ter um fã clube fiel e assíduo, gravar cds e ver suas músicas nas mais famosas rádios do pais e do mundo e poder despertar sentimentos em cada pessoa com suas músicas próprias que não saem da boca das pessoas é o desejo de todo e qualquer artista. Com a banda Velho Corvo da cidade de Ibaté não é diferente, trazem consigo o desejo do sucesso atrelado ao laborioso trabalho de artista, assim, tem conseguido alçar grandes vôos dentro do universo da música independente.

A banda Velho Corvo nesse domingo subiu num dos palcos mais importantes da cidade de Limeira onde já tocaram Edu Ribeiro, Teco Martins, Banda Gloria, Dead Fish, a casa KINGSTON UNDERGROUND que é um espaço alternativo que promove eventos de rock, hardcore, metal, rap e reggae.

O Festival Kingston Underground organizado pela própria casa levou a Banda Velho Corvo e outras sete, dentre elas, Ohana e Paralelo 38 a se deslocarem pela rodovia para participar desse grande evento com bandas da região de Limeira, sendo a Velho Corvo a única de outra região do Estado.

Para Alberice Lukas, integrante da banda, “participar de um evento em uma casa de show onde já passou artistas consagrados da música brasileira, além de ter um feedback positivo do dono da casa é um incentivo pra gente continuar fazendo nosso som e enfrentando horas de viagens”.


Assim, novamente Ibaté mostra que seus filhos trazem consigo muito mais que simples humanos, trazem felicidade!





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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Funk, Passinho, Romano e Montaigne - Da Liberdade de ser Funkeiro

Sempre entro em questões polêmicas dentro da minha rede social. Deveria aprender que isso não leva a nada e não produz conhecimento, claro que quando nos aventuramos a dialogar com pessoas que não tenham um mínimo de noção dos conceitos que estamos empregando.


Hoje, tenho 10 anos de vida na arte e no seu entorno além de não deixar de fazer as reflexões básicas do fazer artístico, da educação na arte, da sua valorização, da democratização do acesso e os mecanismos de fruição da arte. Posso dizer também que tive o privilégio de ter bons professores na academia que me deram as bases pra reflexão das relações sociais.


Tenho vista há muito tempo com uma certa frequência pessoas diminuindo o Funk, Passinho e dizendo não ser cultura, não ser arte, não ser isso, não ser aquilo, mas o bom de ter passado por algumas gerações é que aprendemos que tudo se repete num processo cíclico historiográfico. O que acontece com o Funk já aconteceu com o Rock, com o Jass, com o Bluess, com os movimentos artísticos da Era das Revoluções, com a Bossa Nova, com o Samba, com… com… com…


Quando os Gregos entravam em contato com os Bárbaros, diziam que a cultura grega era superior. Quando os Espanhóis entraram com contato com os Astekas, disseram que sua cultura era superior. Quando entramos em contato em “o outro”, temos como referência nossa própria experiência de vida, nossas subjetividades. Dessa forma, o outro sempre será diferente e inferior nas suas formas de relacionar imageticamente com o mundo. Esse tipo de posicionamento de dizer que determinada pessoa tem ou não cultura, que uma determinada manifestação é ou não arte é tão arcaico que eu teria vergonha até de pensar, de deixar passar pela minha cabeça. A pessoa mostra o nível de ignorância exacerbada e que nunca saiu das cadeiras iniciais da escola, mesmo que esteja num pós doutorado!


Conhecer um pouco mais do Funk e da Industria Cultural pro Mercado, faz um bem enorme e mais, entender que até Michel de Montaigne que “subiu” em 1592 já entendera que só o tempo dirá o que é ou não, o que será ou não um clássico, o que é ou não eterno, o que se manterá por muitos ou poucos anos e qual obra de arte ficará pra posteridade mostra a bestialidade do pensamento dum sujeito que desmereça o funk.


O Funk, nos seus mais variados seguimentos, além de ser um movimento de protesto, é reflexo na batida, nos movimentos e na letra da ancestralidade e da situação social, política e econômica da comunidade negra brasileira. É a forma que um determinado grupo, no caso, as periferias e favelas se expressam e se afirmam socialmente. É como manifestam suas subjetividades, criam seus signos e símbolos e nessa construção da mentalidade, forma no sujeito o seu “eu”, sua identidade. Diminuir esse processo é tirar a humanidade de toda uma nação e de seus ancestrais. É reproduzir um discurso eugênico relacionando um ser humano a bestas e imaginar que suas manifestações culturais, são bestialidades.



Cultura é um conjunto de signos e significados criados por um grupo social e nação para propagar seus valores e fortalecer sua identidade e, nessa geração, o funk tem o papel fundamental pra fortalecer e propagar isso. Tirar essa liberdade de ação é agir de forma totalitarista e ser contra todas as liberdades.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Pessoas invisíveis...

Hoje, com 28 anos, posso olhar para um pequeno passado, mas que já me permite ver algumas fases em minha vida. 

Olhando pra traz, dou valor a cada fase e cada momento que passei em minha vida. Cada ambiente de trabalho me permitiu ver, pensar e sentir uma parte do mundo, porém, mesmo depois de tudo isso, ainda me vejo como um eterno analfabeto pensante.


Hoje tenho tido a oportunidade de ver, através do meu trabalho, um Brasil que eu só via nos livros de matrizes esquerdistas. Sentir e ver de perto a luta interna do homem em busca de reafirmar sua dignidade mesmo que pra toda a sociedade ele não seja visto ou exista. Pra toda a sociedade, esses são seres invisíveis!


Pessoas que dentro de toda a sua vida, desenvolveram habilidades e foram por muitas vezes venerados pela mesma sociedade que hoje vira as costas e todo o auxílio se resume em comida, roupas velhas e um colchão sem lençol pra dormirem. Seres invisíveis…


Hoje atendo pessoas que por alguma peripécia da vida, não possuem casa pra morar, dinheiro pra financiar suas necessidades mais básicas e nem dinheiro pra poder realizar seus mais simples desejos. São pessoas invisíveis que são contadas na estatística ou servem de massagem de ego em dias de datas comemorativas, mas que não são vistos no resto do ano. Não são vistos quando sentem fome e reviram lixos pra poder se sustentar. Não são vistos quando se machucam ou quando sorriem. Invisíveis…


Vejo em algumas situações, pessoas com pavor, com extremo pavor a ponto de em menos de 1 ou 2 metros de distância tentar, numa rua super movimentada, atravessar a rua(preferir morrer pelos carros a passar por um local), abaixar a cabeça, fazer que não vê, aumentar a velocidade dos passos, etc. Ali, naquele ambiente você vê que as instituições tentam somente maquiar o fato de que não há políticas públicas, com algumas migalhas. As empresas, maquiam o fato de que não há trabalho, com algumas doações de produtos estragados, prestes a estragar ou com prazo de validade de poucos dias. As igrejas, com alguns pães com mortadela ou até um culto religioso a cada semana com alguns sucos em pó, o fato de que não amam essas pessoas como amam a si mesmos e muito menos como o Mestre os amou.


Ou seja, são invisíveis essas pessoas que só valem pra teses e dissertações nas mais diversas universidades, pra desvio de verbas, pra bicos de profissionais que não veem como objetivo de vida a qualidade de vida dessas pessoas.


Portanto, espero que um dia, seja vista as habilidades, a humanidade, as potencialidades e a vida dessas pessoas invisíveis que vivem excluídas da sociedade apodrecendo enquanto nós, a sociedade burguesa, pensamos que o mundo vai muito bem…

Por favor, abra os olhos e veja alguma dessas pessoas, ainda são pessoas esses que parecem... invisíveis!!!

Imagens:

https://www.google.com.br/search?q=crian%C3%A7a+suja+comendo&biw=1366&bih=643&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=0emFVNDSKs3TgwTs2oHQCQ&ved=0CAYQ_AUoAQ#tbm=isch&q=mendigo+sorrindo&facrc=_&imgdii=E05DxfXjannOEM%3A%3BE9HrkjhUsCdxMM%3BE05DxfXjannOEM%3A&imgrc=E05DxfXjannOEM%253A%3BYqnHCJRC5R3V_M%3Bhttp%253A%252F%252F1.bp.blogspot.com%252F-WA0Zc9R-vEU%252FTjhIr9_PhdI%252FAAAAAAAAFUc%252FKlTK58yyi9U%252Fs1600%252F5078548527_2371ea57e0_b.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fsabrinatortellotte.blogspot.com%252F2011_08_01_archive.html%3B685%3B1024

sábado, 6 de dezembro de 2014

Esmaltes e Albergues não combinam...

Hoje é o dia de mobilização dos homens pelo fim da violência contra as mulheres. Não sou feminista e nem faço panfletagem da causa, mas eu trago comigo uma cena que aconteceu comigo ontem e me chamou muito a atenção.

No meu trabalho servimos refeições para pessoas em situação de rua. Todos os dias passam cerca de 300 pessoas, a maioria homens, que se alimentam na instituição. De todos esses, 3 ou 4 são mulheres. Algumas vão com os maridos e crianças, mas a grande maioria são homens.

Ontem, dia 06 de dezembro, uma moça em situação de rua com rosto muito abatido foi almoçar e tomar banho. Eu a servi e ela me agradeceu com um sorriso que eu percebi que usara todas a suas força pra botar em rosto. Ela pediu que a cozinheira colocasse pouca comida, eu coloquei os pedaços mais gordos e grandes de carne em seu prato. Algumas verduras e ela foi até a mesa.

Duas moças a acompanhava. Moças do serviço social da Prefeitura de São Paulo, uma delas parou e trocamos algumas palavras enquanto a outra a seguiu até a mesa. Depois de algumas piadas que rimos risos forçados, a senhora do serviço social me disse que existia poucos albergues femininos aqui em São Paulo. Ela não disse números, mas que era muito difícil encontrar um ao menos, o único que tinha, estava lotado.

Os albergues servem para moradores de rua, viajantes que por algum impropério, necessita passar algumas noites ou até, viver por meses. Há situações específicas de pessoas que passaram o resto de suas vidas em albergues.

Mas a pergunta é: Por que não há uma quantidade igual ou  ao menos, satisfatória para alojar mulheres em situação de rua?

Em toda a história da humanidade, vemos as mulheres lançadas de casa por adultério ou por pais que não aceitam a gravidez de suas filhas, se houvessem albergues, essas mulheres poderiam ter uma estrutura mínima pra poder voltar e se reinserirem na sociedade.

Hoje, há mulheres que gostam de viajar com mochilas, mulheres que viajam pra estudar ou por algum impropério, necessitam pernoitar num albergue ou até, em situações de violência, ser uma saída pra essas mulheres.

Nesse retrato, novamente vemos que são os homens que tem mais esse previlégio. Dificilmente um homem é expulso de casa e se o for, com muito mais facilidade é inserido no mercado de trabalho, mas a mulher sempre explorada nos afazeres de casa desde a infância, sem esse equipamento do Estado, tem muito mais dificuldade de sair de casa e, se acontece algo do tipo, tem que viver de favores ou até se submeter a um homem que a “sustente”.


Assim, vemos que quem sempre necessitou desse equipamento não tem acesso a ele há muitos anos. Será que não há alguma combinação entre esmaltes e albergues, afinal, com certeza comporia um “look” muito melhor pra nossa sociedade.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Dia do Samba: O nosso partido é alto cadenciado por nossos ancestrais


Para um garoto negro brasileiro, dizer quando teve seu primeiro contato com o Samba é quase que impossível. Não que todos os negros saibam sambar ou tem um ritmo em algum instrumento percussivo e frequente todas as rodas ou casas de samba e acompanhe as avaliações das escolas de samba. É muito mais que isso, é trazer de geração a geração, naturalmente ser inserido nessa prática social, artística e cultural, o Samba.


Não estou falando dos pagodes da indústria cultural que são criados já com prazo de validade, mas daquelas músicas que já nem sabemos o nome. Daquele churrasco em família onde, com todo mundo bêbado e com seu tio já deitado debaixo da churrasqueira por não conseguir, ainda bem, levantar quando lá se prostrara depois de ingerir tudo que seja líquido, gasoso ou poroso. Daquele rebolado da prima ou da namorada do tio que ao toque do repique e do choro do cavaco, começara a bailar e você, no meu caso, homem, em pleno ápice dos hormônios da puberdade, sentira seu corpo responder de forma não comum e moralmente indevida, mas que não conseguira segurar.


Estou falando de saber que “Leonardo dava vinte e por que é que eu não posso dar dois”, estou falando da “semente jogada no meu quintal”, da “coca ai na geladeira”, mas mesmo assim, “deixa a vida me levar”, por que, “acreditar” que vamos pra sempre ver a Mangueira e numa roda de samba ouvir de novo Madureira e depois, já alegres, ir pro Vidigal ou, já protegidos por Jorge, para um pagode no Bixiga.


No outro dia, pegar o nome do infeliz que encheu ou saco ou ignorou a conversa fiada sem sentido ou da guria que não passou o telefone e botar na macumba nos pés da feiticeira e pedir uma quizumba pra derrubar o capiroto! Claro, aquele era um sonho meu e já que não aprendeu que nesse chão tem-se que pisar de vagarinho, vai ter uma faixa queimada na frente de casa pra toda a gente da favela ver! A menos que o infeliz seja de Ogum, vai ter que bater cabeça no congá e pedir proteção pro santo e, como eu sei que Jorge é da Capadócia, tudo vai terminar numa linda roda de samba!


Por fim, vamos seguir por que eu tenho que voltar pra casa com o trem das onze, minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e ao chegar, vou mandar um watzap dizendo pra que não chorar neném.


Enfim, dia 02 de dezembro é o dia do samba e eu ainda lembro como aprendi a sambar, quando aprendi uma única batida no pandeiro e as brincadeiras com tam tam ou com balde.

Sim, o Show tem que continuar e vamos pra sempre sambar no fundo do nosso quintal por que o nosso partido é alto e o nosso choro é cadenciado  por todos os nossos ancestrais!